Não é a toa que falamos tanto sobre detecção precoce e a possibilidade do tratamento conservador para tentar evitar a tão temida cirurgia de escoliose. De fato, não é nada fácil passar por isso. Eu mesma faço parte das estatísticas e, mesmo com o uso do colete por quase 5 anos, não pude fugir da cirurgia. Assim como aconteceu comigo, muitas outras crianças e adolescentes não têm escolha e a única saída é operar. Então vamos falar sobre isso?
Recentemente, estive no II Simpósio Internacional da AACD, que por sinal foi maravilhoso, e muito se falou sobre a cirurgia da escoliose. Neste post, vou compartilhar com vocês um pouco do que aprendi lá e também o que aprendo por meio de pesquisas!
Quando é a hora de operar?
Todos os casos devem ser debatidos com o ortopedista e cirurgião de coluna de sua confiança, mas, normalmente, a recomendação é que a cirurgia aconteça para curvas acima de 45 e 50 graus. Obviamente, os aspectos serão avaliados antes, como idade do paciente, tipo de curva e indicação de progressão. Eu operei com 60 graus aos 18 anos, mas quando descobri a escoliose, aos 11, minha curva tinha em torno de 30. Usei colete, fiz todos os tipos de exercício, mas mesmo com o crescimento fechado, o desvio continuou crescendo e isso é o que chamamos de escoliose progressiva - um crescimento sem fim, que inevitavelmente vai comprometer órgãos como pulmão e coração. Caso clássico de cirurgia. Não tem para onde correr.
Quais as principais preparações para o tratamento cirúrgico?
O mais importante antes da cirurgia de escoliose é ter uma equipe multidisciplinar cuidando de nós. Não basta termos um ortopedista e cirurgião, afinal existem muitos fatores envolvidos, inclusive o psicológico. Entre os profissionais que devem nos acompanhar neste momento estão: nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta, anestesista e, eventualmente, um terapeuta ocupacional. Além disso, o apoio familiar é de extrema importância para nos passar a confiança necessária antes de enfrentarmos horas de uma complexa cirurgia. Também é preciso que nos preparem para a dor que sentiremos no pós-operatório - eu tive uma dor insuportável e vivi à base de morfina. Não estava nem de longe preparada para isso.
O quê de mais importante o paciente espera como resultado da cirurgia de escoliose?
Ombros nivelados e giba menos perceptível, mas isso vai variar caso a caso. Como os ossos da coluna vertebral protegem a medula espinhal, o cirurgião endireitará os ossos apenas até onde for seguro. O grau de correção da cirurgia depende de quão flexível é sua escoliose antes da operação e, em geral, quanto mais flexível for a curva, melhor será a correção da cirurgia. Eu fiz natação por muitos anos antes de operar para deixar a coluna mais flexível. A maioria dos pacientes se recupera da cirurgia com curvas que foram corrigidas para menos de 25 graus. Em muitos casos, essas pequenas curvas são quase imperceptíveis. Eu fiquei com um pouco mais: 28 graus.
Em outro post, eu comento sobre a expectativa para se zerar os graus de curvatura.
E os cuidados pós-cirúrgicos?
Algo muito comentado no Simpósio da AACD foi a importância de cuidar muito bem das feridas para evitar infecção. Inclusive, tivemos uma ótima palestra de uma das enfermeiras do Hospital Ortopédico, na qual o principal tema foi esse. Ainda no campo das feridas, é importante evitar as lesões por adesivos médicos, ou seja, os adesivos para fazer os curativos. Muitos queimam a pele, como vemos na foto abaixo. Além disso, alguns tipos de remédios devem ser evitados ou então doses devem diminuídas para evitar congestão intestinal no paciente. Isso é muito comum e gera um desconforto enorme.
Existe uma técnica menos invasiva do que a cirurgia convencional para escoliose?
Sim, a técnica bipolar, desenvolvida em 2012 pelo médico francês, Lofti Miladi, que estava presente de forma online no Simpósio da AACD. Ele mostrou muitos casos de fotos de pacientes que já operaram por meio desta técnica, onde não há um corte inteiro nas costas e sim pequenas incisões em pontos estratégicos. entre os benefícios, menos tempo de cirurgia, menos sangramento, menor chance de infecção, pós-operatório menos doloroso e menor exposição a radiação.
Atualmente existem diversos trabalhos científicos publicados em renomadas revistas internacionais, que comprovam que a técnica é segura e eficaz. Mundialmente foram realizadas mais de duas mil cirurgias utilizando essa inovadora técnica, inclusive no Brasil.
Pessoal, o assunto é infinito e, portanto, podemos falar muito mais sobre isso! Fiquem à vontade para comentar e contar a relação de vocês com a cirurgia de escoliose! Compartilhar experiências e informações ajuda sim muitas outras pessoas, que ainda vão passar pelo processo.
Olá Julia!
Minha filha fez a cirurgia de escoliose há 5 dias. Foi colocado 21 parafusos e haste de titânio, o grau de escoliose era 54.
Ela está sentindo muitas dores no pós operatório, consegue caminhar só um pouco e já tem que deitar, porque sente muito peso no pescoço, ombros e quadril. Sentada sente dores e pressão no quadril e pescoço. Ela chora muito pois está se sentindo um robô, não consegue nem olhar pra baixo. Por favor me diz se esse peso passa e se a mobilidade volta ou fica restrita no caso dela que pegou quase a coluna toda a correção, o curativo já inicia um pouco abaixo do pescoço.
Excelente! Quanto mais informação, menos medo e insegurança!
Muito importante fazer tudo recomendável com muita disciplina, fará muita diferença adiante. Que bom essas novas informações com inovações e progressos. Parabéns por todo esse carinho com todos